Tuesday, June 26, 2012

Pedaladas de fim de semana

E foi desta, depois de partir, há que arranjar. Soldei a peça que se tinha partido, e reforcei-a muito bem, just in case. Escusado será dizer que ficou bastante melhor do que estava "em nova". Este processo levou-me algum tempo, porque tive que fazer o alinhamento com a correspondente da outra roda, para garantir que ficavam com ângulos iguais - nestas coisas ter dois maus é típicamente melhor do que ter um mau e um bom... Depois de tudo reforçado (verifiquei todos os pontos críticos da estrutura) montei novamente todos os componentes, e vai de testar. Tudo cinco estrelas (e meia), com ligeiras excepções. Por exemplo, a compensação de Ackerman tem um balanço ligeiramente diferente à direita e à esquerda, que apenas se torna perceptível quando se aperta a direcção ao limite, e por uma razão simples, é que os veios da direcção não são simétricos, dado que o esquerdo aperta cerca de 1 cm acima do direito. 
O desviador dianteiro também estava bastante pesado (desde sempre), fazer o shifting naquilo era o mesmo que levantar um piano de cauda só com um dedo... Assim como assim, fosse qual fosse a afinação, a coisa não melhorava. Lembrei-me então de trocar a pedaleira 24-33-43 (herdada do Btt) por uma 30-43-53 de estrada (tinha deixado a corrente com folga suficiente para essa alteração)... et voilà, não é que funcionou muitíssimo bem? Fantástico. Mesmo com um desviador originalmente concebido para uma pedaleira mais pequena, o que me diz que a Shimano sabe bem o que anda a fazer... Ficou bastante mais "leve" e está muito preciso. Nada a acrescentar, a não ser o facto de que... aqueles seis dentes a mais na cremalheira mais pequena fazem alguma diferença. E os dez na maior, nem se fala. Na realidade não consegui passar dos trinta e oito, trinta e nove kmts/h, não cheguei aos quarenta, garantidamente, mas já lá irei mais adiante. Antes disso ainda queria referir um detalhe mecânico deveras interessante do qual só me apercebi nesta voltinha que dei com o triciclo. 


Não tenho nenhuma foto a partir da qual consiga explicar isto melhor do que nesta: a inclinação do eixo da direcção em cada uma das rodas (kingpin) é tal que aponta para fora do ponto onde o pneu assenta no chão (não tanto quanto aparenta na foto, mas não deixa de ser visível). Típicamente este eixo deverá apontar para o ponto de apoio do pneu no chão para garantir um comportamento tão neutro quanto possível relativamente às irregularidades do piso e em travagens violentas. Neste caso "esqueci-me" de tirar cinco graus ao ângulo final, e acabei com esta geometria. Com que resultados?


Neste preciso campo, apenas tenho um termo de comparação, que é a primeira trike que fiz, que era completamente diferente desta a todos os níveis, o que é fraco como referência. Talvez por ter uma largura de vias monstruosa (cerca de 1 metro), apesar de ter o kingpin correctamente dimensionado, tendia à viragem quando travava apenas com um dos travões dianteiros. Esta é bastante mais estreita (cerca de trinta centímetros), mas creio que é a geometria do kingpin que a mantém a direito exactamente nas mesmas circunstâncias. Perante irregularidades no piso não é neutra, na realidade faz uma espécie de realimentação negativa, tentando de algum modo manter o percurso numa linha recta.




Não sei se por esta mesma razão, mas em velocidade (leia-se "a uns trintas e picos kmts/h") sinto a direcção muito leve, talvez até mesmo demasiado leve, demasiado rápida a responder e a dar uma sensação de alguma instabilidade. E aqui entra um outro factor, do qual me apercebi por acaso quando estava a afinar os desviadores: levantei a roda traseira e comecei a pedalar, e apercebi-me (pela primeira vez na vida) que sou um autêntico cepo nos pedais. Passo a explicar: com a trike parada é muito mais fácil perceber quanto da energia da pedalada é transferido para movimentos que não têm nada a ver com pedalar. Assim no limite, já a umas boas rpms, parecia mais uma daquelas máquinas de lavar roupa antigas (que ganhavam vida própria quando faziam a centrifugação) do que um meio de locomoção... 
Resumindo, creio que tenho duas características potencialmente incompatíveis: uma direcção sensível e um estilo de pedalada de bronco. Haverá que melhorar na pedalada.


Voltando à viagem: decidi por razões meramente académicas seguir pelo caminho das pedras - todos os trilhos de que me lembrei, portanto, para ter uma idéia de até onde poderia ir - isto com pneus relativamente estreitos, 1,25" e com um piso suave, mais adequado ao asfalto. Curiosamente, foram muito poucas as situações tive que "dar uma mãozinha" à tracção dianteira para sair de apertos; é certo que a viagem por montes e vales foi lenta, mas a verdade é que... foi.  Fora de estrada teve um comportamento surpreendentemente positivo - na realidade estava à espera de me atolar na primeira areia do caminho e de ter que carregar o lastro à mão. Mas não foi nada disso que aconteceu, pelo contrário. Saiu-se muitíssimo bem, dadas as expectativas... Quem estiver a imaginar a comparação com uma btt, esqueça; não há como uma bicicleta para sair de estrada para pisos mais complicados com uma velocidade aceitável. É que aqui não há como usar as pernas como amortecedor, e tudo tem que ser negociado. Acaba por ser mais uma questão de estratégia... Mas dado que em situações limite se podem utilizar as mãos para ter tracção às três rodas, a desvantagem do maior numero de dentes nas pedaleiras acaba por não ser tão óbvia (até porque a repartição de peso não permite subidas com pendentes muito acentuadas); por outro lado, a estabilidade inerente a esta plataforma acaba por funcionar a favor na grande maioria das circunstâncias - e aqui uma nota negativa: o assento desta trike é "plano", i.e., não tem qualquer apoio dorsal, lombar ou lateral. Quando o piso é inclinado ou muito inclinado, a tendência é... escorregar para o lado. Nada a fazer, a não ser trocar por um banco com mais apoio lateral.
De qualquer modo, e apesar de ter superado as minhas expectativas, necessitará sempre de um jogo de pneus mais adequados para pisos de cascalho, gravilha e areia... globalmente tudo o que não seja asfalto. Aqui a coisa muda completamente de figura. Tal como sempre referi, a posição reclinada implica a utilização de grupos musculares diferentes, ainda não acostumados (no meu caso) a grandes esforços (nem os outros, quanto mais estes...). Ainda assim, e pesem embora algumas dores de um assento não almofadado, consegui velocidades bastante interessantes em alguns pontos do percurso, apesar do vento muito forte que se fazia sentir. Não consegui de todo utilizar a pedaleira grande sem uma perda notória de velocidade, pelo que me mantive nos 43 dentes na maioria do tempo, o que não deixa de ser revelador do mau estado do "motor". A hipersensibilidade da direcção aliada à minha pedalada pitecantrópica não ajudou nada à festa. 


A sensação com que fiquei foi a de uma trike com um comportamento globalmente honesto, sem ser extraordinário em nenhuma das características; um conjunto bastante equilibrado e ainda a necessitar de algumas melhorias mas com bastante potencial. Diria que com algumas semanas de prática conseguirei melhorar substancialmente o desempenho... Vamos lá ver até onde.


Consegui fazer o troço final do caminho na cola de um estradista que me ultrapassou, porque tinha mesmo que ver até que ponto conseguia ir... E consegui... acompanhar, que era o meu objectivo.










Uma nota final: Sorrisos, muitos sorrisos e alguns comentários engraçados, chegaram mesmo a parar o carro para me perguntarem se era uma bicicleta alentejana - "o Zé aqui também é de lá" - sendo que o Zé era o pendura, e crianças a acenarem das janelas dos carros. E condutores mais curiosos, tolerantes, pacientes e civilizados a darem-me bastante mais espaço nas ultrapassagens do que quando vou de bicicleta.













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