Thursday, June 28, 2012

Espichel

Ontem, assim um bocadinho antes do jogo de Portugal... 




Tuesday, June 26, 2012

Pedaladas de fim de semana

E foi desta, depois de partir, há que arranjar. Soldei a peça que se tinha partido, e reforcei-a muito bem, just in case. Escusado será dizer que ficou bastante melhor do que estava "em nova". Este processo levou-me algum tempo, porque tive que fazer o alinhamento com a correspondente da outra roda, para garantir que ficavam com ângulos iguais - nestas coisas ter dois maus é típicamente melhor do que ter um mau e um bom... Depois de tudo reforçado (verifiquei todos os pontos críticos da estrutura) montei novamente todos os componentes, e vai de testar. Tudo cinco estrelas (e meia), com ligeiras excepções. Por exemplo, a compensação de Ackerman tem um balanço ligeiramente diferente à direita e à esquerda, que apenas se torna perceptível quando se aperta a direcção ao limite, e por uma razão simples, é que os veios da direcção não são simétricos, dado que o esquerdo aperta cerca de 1 cm acima do direito. 
O desviador dianteiro também estava bastante pesado (desde sempre), fazer o shifting naquilo era o mesmo que levantar um piano de cauda só com um dedo... Assim como assim, fosse qual fosse a afinação, a coisa não melhorava. Lembrei-me então de trocar a pedaleira 24-33-43 (herdada do Btt) por uma 30-43-53 de estrada (tinha deixado a corrente com folga suficiente para essa alteração)... et voilà, não é que funcionou muitíssimo bem? Fantástico. Mesmo com um desviador originalmente concebido para uma pedaleira mais pequena, o que me diz que a Shimano sabe bem o que anda a fazer... Ficou bastante mais "leve" e está muito preciso. Nada a acrescentar, a não ser o facto de que... aqueles seis dentes a mais na cremalheira mais pequena fazem alguma diferença. E os dez na maior, nem se fala. Na realidade não consegui passar dos trinta e oito, trinta e nove kmts/h, não cheguei aos quarenta, garantidamente, mas já lá irei mais adiante. Antes disso ainda queria referir um detalhe mecânico deveras interessante do qual só me apercebi nesta voltinha que dei com o triciclo. 


Não tenho nenhuma foto a partir da qual consiga explicar isto melhor do que nesta: a inclinação do eixo da direcção em cada uma das rodas (kingpin) é tal que aponta para fora do ponto onde o pneu assenta no chão (não tanto quanto aparenta na foto, mas não deixa de ser visível). Típicamente este eixo deverá apontar para o ponto de apoio do pneu no chão para garantir um comportamento tão neutro quanto possível relativamente às irregularidades do piso e em travagens violentas. Neste caso "esqueci-me" de tirar cinco graus ao ângulo final, e acabei com esta geometria. Com que resultados?


Neste preciso campo, apenas tenho um termo de comparação, que é a primeira trike que fiz, que era completamente diferente desta a todos os níveis, o que é fraco como referência. Talvez por ter uma largura de vias monstruosa (cerca de 1 metro), apesar de ter o kingpin correctamente dimensionado, tendia à viragem quando travava apenas com um dos travões dianteiros. Esta é bastante mais estreita (cerca de trinta centímetros), mas creio que é a geometria do kingpin que a mantém a direito exactamente nas mesmas circunstâncias. Perante irregularidades no piso não é neutra, na realidade faz uma espécie de realimentação negativa, tentando de algum modo manter o percurso numa linha recta.




Não sei se por esta mesma razão, mas em velocidade (leia-se "a uns trintas e picos kmts/h") sinto a direcção muito leve, talvez até mesmo demasiado leve, demasiado rápida a responder e a dar uma sensação de alguma instabilidade. E aqui entra um outro factor, do qual me apercebi por acaso quando estava a afinar os desviadores: levantei a roda traseira e comecei a pedalar, e apercebi-me (pela primeira vez na vida) que sou um autêntico cepo nos pedais. Passo a explicar: com a trike parada é muito mais fácil perceber quanto da energia da pedalada é transferido para movimentos que não têm nada a ver com pedalar. Assim no limite, já a umas boas rpms, parecia mais uma daquelas máquinas de lavar roupa antigas (que ganhavam vida própria quando faziam a centrifugação) do que um meio de locomoção... 
Resumindo, creio que tenho duas características potencialmente incompatíveis: uma direcção sensível e um estilo de pedalada de bronco. Haverá que melhorar na pedalada.


Voltando à viagem: decidi por razões meramente académicas seguir pelo caminho das pedras - todos os trilhos de que me lembrei, portanto, para ter uma idéia de até onde poderia ir - isto com pneus relativamente estreitos, 1,25" e com um piso suave, mais adequado ao asfalto. Curiosamente, foram muito poucas as situações tive que "dar uma mãozinha" à tracção dianteira para sair de apertos; é certo que a viagem por montes e vales foi lenta, mas a verdade é que... foi.  Fora de estrada teve um comportamento surpreendentemente positivo - na realidade estava à espera de me atolar na primeira areia do caminho e de ter que carregar o lastro à mão. Mas não foi nada disso que aconteceu, pelo contrário. Saiu-se muitíssimo bem, dadas as expectativas... Quem estiver a imaginar a comparação com uma btt, esqueça; não há como uma bicicleta para sair de estrada para pisos mais complicados com uma velocidade aceitável. É que aqui não há como usar as pernas como amortecedor, e tudo tem que ser negociado. Acaba por ser mais uma questão de estratégia... Mas dado que em situações limite se podem utilizar as mãos para ter tracção às três rodas, a desvantagem do maior numero de dentes nas pedaleiras acaba por não ser tão óbvia (até porque a repartição de peso não permite subidas com pendentes muito acentuadas); por outro lado, a estabilidade inerente a esta plataforma acaba por funcionar a favor na grande maioria das circunstâncias - e aqui uma nota negativa: o assento desta trike é "plano", i.e., não tem qualquer apoio dorsal, lombar ou lateral. Quando o piso é inclinado ou muito inclinado, a tendência é... escorregar para o lado. Nada a fazer, a não ser trocar por um banco com mais apoio lateral.
De qualquer modo, e apesar de ter superado as minhas expectativas, necessitará sempre de um jogo de pneus mais adequados para pisos de cascalho, gravilha e areia... globalmente tudo o que não seja asfalto. Aqui a coisa muda completamente de figura. Tal como sempre referi, a posição reclinada implica a utilização de grupos musculares diferentes, ainda não acostumados (no meu caso) a grandes esforços (nem os outros, quanto mais estes...). Ainda assim, e pesem embora algumas dores de um assento não almofadado, consegui velocidades bastante interessantes em alguns pontos do percurso, apesar do vento muito forte que se fazia sentir. Não consegui de todo utilizar a pedaleira grande sem uma perda notória de velocidade, pelo que me mantive nos 43 dentes na maioria do tempo, o que não deixa de ser revelador do mau estado do "motor". A hipersensibilidade da direcção aliada à minha pedalada pitecantrópica não ajudou nada à festa. 


A sensação com que fiquei foi a de uma trike com um comportamento globalmente honesto, sem ser extraordinário em nenhuma das características; um conjunto bastante equilibrado e ainda a necessitar de algumas melhorias mas com bastante potencial. Diria que com algumas semanas de prática conseguirei melhorar substancialmente o desempenho... Vamos lá ver até onde.


Consegui fazer o troço final do caminho na cola de um estradista que me ultrapassou, porque tinha mesmo que ver até que ponto conseguia ir... E consegui... acompanhar, que era o meu objectivo.










Uma nota final: Sorrisos, muitos sorrisos e alguns comentários engraçados, chegaram mesmo a parar o carro para me perguntarem se era uma bicicleta alentejana - "o Zé aqui também é de lá" - sendo que o Zé era o pendura, e crianças a acenarem das janelas dos carros. E condutores mais curiosos, tolerantes, pacientes e civilizados a darem-me bastante mais espaço nas ultrapassagens do que quando vou de bicicleta.













Wednesday, June 06, 2012

E por onde é que eu parti? Por aqui.


O ponto mais sub-dimensionado de toda a estrutura. Em detalhe...

Uma visão global do desastre...

Esta foi mesmo para mostrar o "novo" guiador, mais curto, e o antigo veio de direcção recuperado para testes, testes esses que compovaram que uma boa idéia nem sempre é uma solução. É que qualquer ângulo conta na geometria da direcção, e falarei disto mais tarde...

E para desmoer...

Assim a jeito de interlúdio, aqui vai uma coisinha que tem mesmo a minha cara. Em fibra de carbono, não será seguramente a mais barata do mundo, pelo contrário... De um fabricante Francês, a Zockra, e de seu nome Kouign Amann, imagine-se lá porquê. Se tiverem curiosidade em saber mais, o ideal é ir directamente à fonte.
Trata-se de um bicharoco completamente fora-de-série por muitas razões. Se o universo das reclinadas já é diminuto, reclinadas com tracção dianteira são uma verdadeira raridade, e tirando a Zockra, a Cruzbike e a Airbike não estou recordado de mais nenhuma marca que actualmente aposte nesta solução. Há uma comunidade inventiva que apostou num design ainda mais radical a que chamaram "Python", dado que é uma solução que implica à cabeça um trail negativo - o que se poderia considerar de todo impossível, mas que na realidade funciona muito bem, com algumas limitações, é certo. Mas voltando a esta Kouign Amann, poderão aferir pelas fotos que se trata de uma criação artística - acima de tudo é uma bicicleta lindíssima, que também anda muito bem, pelo menos a julgar pelos dois ou três vídeos que apanhei no youtube. Só mesmo para desmoer e para ir sonhando... 










Tuesday, June 05, 2012

Trike II - adenda para a desgraça

E pronto, tinha que ser. Partiu-se.
Nada de especial, efectivamente, foi mesmo no sítio onde sempre imaginei que seria. Cheirava-me a sub-dimensionado para a carga que iria sofrer, apenas isso, e confirmou-se. O facto de a ter sujeitado a alguns esforços inusitados também não foi alheio à coisa... E como sempre, o material tem razão.
Nada que não se resolva, corrija e melhore, bem pelo contrário. Creio que há muito por onde progredir, e o facto de ter quebrado por onde era suposto quebrar, deixa-me sobejamente satisfeito. 
Vou mantendo o blog actualizado na medida do possível.

Monday, June 04, 2012

Trike II

No seguimento dos experimentos com a compridona dos posts anteriores que tiveram uma taxa de sucesso de cerca de 90%, decidi-me a voltar às três rodas. Porque sim, porque já o queria fazer, porque quero pelo menos tentar testar um velomobile, e uma trike é a plataforma ideal para isso, e porque a compridona pesava (sem gorduras) vinte e sete quilinhos bem medidos... Com uns alforges a meia carga, passava para os trintas e muitos quilos, o que convenhamos, é o peso de um velomobile completamente carenado, mas só com duas rodas. Os 10% dos testes que falhavam eram sempre as subidas - o que convenhamos, não é de todo agradável. Como não tenho espaço de sobra para arrumar material tão volumoso em arquivo morto, acabei por ter que fazer o que posso qualificar de "upgrade destrutivo" - aproveitei partes e peças da compridona para fazer esta trike. Doeu-me a alma, não o posso negar; em tudo o mais era absolutamente fantástica, mas o peso inviabilizava todas as outras qualidades. Uma bigorna de ouro não deixa de ser uma bigorna. E o resultado foi isto: uma tadpole, com duas rodas 20" à frente e uma 26" atrás - a escolha desta roda traseira não foi meramente estética; para poder reutilizar a traseira da compridona e para não ter que esticar a pedaleira aos 53 dentes sem ganhos de velocidade, impunha-se a utilização de uma roda 26"- uma 700C é demasiado frágil para suportar as forças laterais de uma coisinha destas em curva e uma 20" com uma pedaleira 30-43-53 mais limitada do que uma BTT.

Relativamente à minha primeira incursão neste terreno (o das trikes), que também foi com uma tadpole, evitei cometer os erros anteriores, mas dado que estas coisas das bicicletas começam por ser boas idéias, passam a manual de boas intenções e acabam numa lista de concessões, ainda não sei exactamente em que pontos está melhor e em que pontos está pior. Dado que a geometria ainda não está a 100%, não consegui testar o comportamento em curva nas situações mais críticas (ao ponto de conseguir levantar uma das rodas dianteiras, ou quase); em quase tudo o resto está razoávelmente melhor do que a antecessora.

Tentei evoluir nos seguintes items, com os prós e contras indicados:
Direcção: Substituí as pegas laterais (apoiadas nos eixos das rodas) por uma coluna de direcção central. Implica um ligeiro aumento no peso e um incremento substancial na complexidade do conjunto (até porque a coluna da direcção tem que permitir uma variação da inclinação, para permitir a entrada e a saída) mas tem os segintes benefícios: permite isolar completamente os compartimentos das rodas caso queira fazer o "upgrade" para um velomobile, e no "modo trike" permite incursões fora de estrada sem fustigar tanto as mãos e os braços com o matagal;
Direcção: o veio de direcção passou a ser constituido por duas partes em vez de ser um veio contínuo, graças à utilização da coluna de direcção, o que tem vantagens mecânicas ao nível dos ângulos máximos permitidos pelas rótulas e possibilita uma afinação mais consistente;

O sistema de direcção foi inspirado no de alguns velomobiles (o Mango e o Quest), que de si já era idênctico ao da Windcheetah  (uma coluna central com uma junta universal). Neste caso não é exactamente uma junta universal, como se pode aferir da foto abaixo, é apenas uma dobradiça que permite variar a inclinação do guiador, e sem a qual o processo de entrada e saída seria virtualmente impossível...

Um dos pontos mecânicamente mais complexos da estrutura: o apoio da coluna do guiador, que faz também a ligação para o veio da direcção. Duas rótulas de 10mm em plástico (igus) e duas de 8mm metálicas (SKF) fizeram muito bem o trabalho;

Uma perspectiva lateral do eixo da direcção, composto por quatro rótulas de 10mm plásticas, com eixo central numa rosca de 10mm. Em princípio duas por roda teriam feito o trabalho, mas dada a carga neste ponto (muitas forças torcionais em curva e em travagem) decidi não arriscar e reforçar a resistência ao máximo. Antes isso do que ficar parado por ser forreta...

Travões: substutuí os travões em ferradura por cantilever (V-Brake), com um ganho apreciável no poder de travagem. Coloquei-os de molde a serem o mais eficientes possível em termos de travagem, o que lamentavelmente os coloca na pior posição possível em termos de acessibilidade; no campo da sujidade também não saem nada beneficiados, mas pronto, trata-se também aqui de uma concessão.

Depois desta foto fiz algumas alterações ao guiador (encurtei-o alguns cms), tornando-o bastante mais prático em curva. Do lado direito tenho dois manípulos de travão, o da roda da frente do mesmo lado e o da roda de trás, ambos bastante perceptíveis nesta foto.

Atrás igualmente um cantilever. A força de travagem nunca é tão intensa nesta roda, ainda assim por uma questão de simplicidade e eficiência decidi manter este travão. Fica um pouco mais "leve", até ver ainda não consegui bloquear a roda e é assim que vai ficar.

Alguns detalhes interessantes nesta foto: os roletes passa-corrente, projectados de modo a que a mesma tivesse um trajecto tão linear quanto possível (independentemente da violencia dos testes, a corrente não saltou uma única vez dos roletes); a tradicional mangueira amarela no retorno da corrente e na parte dianteira (para proteger a perna direita) - ainda pensei em proteger a corrente toda, mas iria ter um acréscimo de atrito injustificável. Os veios de direcção estão propositadamente colocados tão acima do eixo quanto possível, só para o caso de me decidir a uma ou outra saída leve fora do asfalto...

Um detalhe do rolete traseiro, e a seguir, do dianteiro, colocado mesmo à medida para permitir uma pedaleira de 53 dentes, caso se justifique um dia...

E um detalhe dos parafusos de afinação da direcção.

O cabo do desviador dianteiro não está a 100%, mas vai ter que continuar a servir. O tubo que o suporta está algo inclinado, mas foi necessário para que o desviador tivesse a inclinação correcta para a passagem da corrente sob o "T" do chassis.


Nestas três fotos a lateral com a coluna da direcção com diferentes inclinações. Um ponto a realçar é o facto de ter deslocado tão para a frente quanto possível o eixo dianteiro, mantendo a distância entre vias a menor possível. Na minha primeira trike tinha o eixo quase imediatamente à frente do assento, com uma largura de cerca de um metro. Resultava numa performance miserável em termos de tracção - neste caso consegui um pouco mais de 1/3 do peso na roda traseira, sendo o restante distribuído pelo eixo dianteiro (dizem os experts que o ideal é 1/3 em cada roda).

Um outro detalhe que tenho que referir é a inclusão de tiras para os pedais - a opção por clips era estúpidamente cara nesta fase, pelo que segui a hipótese menos onerosa e que me permite manter os pés agarrados aos pedais sem grande esforço.

A coluna da direcão na posição de entrada/saída. O facto de ter chegado o eixo dianteiro para a frente não ajuda nada esta operação, mas esta é uma das desvantagens destas trikes. Optei por fazer o mínimo de concessões sempre que a geometria estivesse em causa. Na óptica da redução de peso prescindi da suspensão. Creio que não me irei arrepender da decisão, dado que pretendo almofadar o assento - sai menos pesado do que um sistema de suspensão;


Uma vista um pouco mais detalhada da área frontal. As rótulas da direcção suportadas em parafusos M10 fazem um excelente trabalho, mesmo em situações um nada mais violentas - subidas e descidas de passeios, por exemplo; a estrutura tem alguma flexibilidade, o que ainda não se revelou nem bom nem mau, ainda tenho que perceber com uma utilização mais continuada. O peso "fica-se" pelos vinte e três quilos (mesmo com o acréscimo da terceira roda, consegue ser mais leve do que a LWB).

Vou tentar deixar nos próximos dias um post mais técnico, com mais detalhes dos processos de construção e medidas finais.