Thursday, April 28, 2011

LWB II

Após diversas experiências e tentativas frustradas, prescindi de vez do sistema de direcção original, culpa de uma falha grave de projecto. Na realidade o sistema de rolamentos que utilizei não era de todo funcional, e após alguns minutos de utilização começava a apresentar folgas que o tornavam de todo impraticável. Para já, e dada a falta de uma boa idéia para resolver o problema, decidi pelo upgrade menos óbvio: montar um guiador (mais ou menos) tradicional. E ficou assim, como testemunham as fotos. Mais ou menos na mesma, mas com uma "volumetria" algo diferente. Deixou de ser "one of a kind" aqui na paróquia dado que o Frederico tem uma igual parecida. Mantém-se tudo o que disse: a manobrabilidade é a de uma escrivaninha Luís XIV com rodas, tem o peso de um piano de cauda e é linda como o Shrek. Mas é um espectáculo. Quer estrada, quer papar milhas, quer rolar. E mantenho tudo o que disse em relação ao conforto. Absolutamente fantástico.


A escolha do conjunto de rodas 20"/26" não foi casual: o objectivo era ter a pedaleira ao nível (aproximado) do assento. Pareceu-me um bom compromisso entre manter uma área frontal não muito grande sem contudo correr o risco de terminar com uma geometria desconfortável - o que acabaria seguramente por remeter este magnífico exemplar para a prateleira das coisas não utilizaveis. 



O assento foi roubado à irmã mais velha (agora defunta) e recauchutado. Está ligeiramente menor, mais leve e bastante mais robusto - duas placas de contraplacado de 5mm entremeadas com duas camadas de fibra de vidro, com mais duas camadas de fibra de vidro e duas de fibra de carbono em cada uma das faces. O objectivo era não necessitar de apoios adicionais na zona do encosto, estando apenas preso ao quadro por dois parafusos de 6mm. O tubo do guiador foi dobrado à mão e soldado a título mais ou menos definitivo, os acabamentos  nesta zona para já não estão ao nível do resto. Quando comecei este projecto ainda não tinha uma idéia definitiva para o sistema de direcção, pelo que decidi ser um nadinha mais tradicional e aumentar o ângulo do eixo de direcção, não se fosse dar o caso de precisar de um guiador mais tradicional.


Os componentes são todos standard e "roubados" ao BTT: com uma bicicleta tão pesada pareceu-me razoável optar (pelo menos numa fase inicial) por um conjunto que permitisse enfrentar as subidas com alguma confiança. 



Estou a aprender a "pilotar" a bichinha, não é de todo pacífico - a geometria da direcção e o recuo do guiador são autênticos desafios a quem quer contrariar a lei da gravidade naquelas duas rodas... O equilíbrio a baixas velocidades ainda é complicadote, e para não passar demasiadas vergonhas, a auto-aprendizagem tem sido feita após o lusco-fusco, mais ou menos aqui por perto da porta de casa - até porque ainda não tem luzes. 
Extras: tem protecção de corrente (o verde-mangueira não engana: foi mesmo feita a partir de um metro de mangueira de jardim), um guarda-lamas traseiro - falta o dianteiro, fica para um destes dias (a ver), já tem a plataforma e os alforges, que abençoadamente estão providos de reflectores... tudo afinado ao melhor que consegui, tudo a funcionar. Estou a tratar do "motor". E de uns cabos que consigam ir do guiador ao travão traseiro - e pior, ao desviador, para não ficarem como estão actualmente, a fazerem um atalho entre o guiador e o quadro.
Um outro dado importante: tal como aparece nas fotos, pesa 14,5 Kg. Surpreendente, pensei que seria um pouco mais - uns 3 ou 4 Kg a mais.

Tuesday, April 12, 2011

And now...

Something completely different. Vamos chamar-lhe... Não sei bem o que lhe possa chamar, mas a designação correcta é (do Inglês)... Long Wheel Base recumbent byke (LWB). Mais: Under Seat Stearing (USS). A primeira designação vem não do comprimento (2,4 mts) mas do facto de ter o eixo da direcção à frente da pedaleira. A segunda designação vem do guiador, localizado exactamente por baixo do assento - não é um selim, é um assento mesmo. No Brasil traduz-se "recumbent" para "reclinada". Não sei se o termo será o mais correcto, assumo que seja sim... Esta é muito possívelmente a primeira do género feita em Portugal. Tanto quanto sei, claro. Isto não é um concurso, é apenas para dar uma idéia da singularidade da coisa. Tal como esta aqui - uma SWB (Short Wheel Base), Over Seat Steering (OSS) - porque tem o guiador acima do assento, e também qualificada de High Racer (o High entendo, o racer...)...terá sido eventualmente pioneira em Portugal, ao passo que aqui, uma coisinha conhecida como Tadpole Trike (duas rodas à frente, por oposição aos que têm duas rodas atrás, designados por Delta Trikes não foi de todo a primeira a nascer cá na terrinha. Ainda assim num País em que a bicicleta não tem de todo a relevância que merece, os números destes exemplares (únicos) são tão diminutos que fazem deles seres absolutamente exóticos e dignos de de nota. 

O facto de já ter construído/modificado outros exemplares antes foi uma mais-valia inestimável - quer no processo de fabrico, quer na percepção atempada dos pontos fracos do projecto. Não tem um ar "profissional", mas eu também não sou profissional do ramo... A mim serve-me para já. Os materiais utilizados... uma bicicleta do género das bike tour (canibalizadíssima) e tubo de aço de secção quadrada de 35 mm com paredes de 1 mm. Ainda não sei o peso, mas andará seguramente mais próximo dos 20Kg do que dos 10 Kg. Um dia com mais tempo faço um descritivo mais detalhado.

A razão pela qual quis construir esta menina: a) o resultado das experiencias anteriores não me convenceu, e b) esta foi exactamente a primeira bicicleta que quis construir - mas depois acabei por me decidir por algo mais complexo... em relação ao ponto a) senti-me algo insatisfeito quanto aos resultados práticos: o trike era demasiado baixo para andar com segurança nas estradas, a outra bicicleta que tinha canibalizado era demasiado alta para ser confortável nos arranques (principalmente em subida). Ou seja, necessitava de algo intermédio, e surgiu isto.

Após algumas voltinhas pela vizinhança, ficam-me as segintes sensações:
-Pode vir a ser uma coisinha muuuuito rápida. Apesar do peso sim, afinal tem a vantagem da aerodinâmica - mas como dizem os americanos, nestas coisas "miles come before speed".;
-Não é por aí além de manobrável. Muito comprida, assemelha-se mais a um camião articulado com reboque... creio que se desenrascará bastante bem em estradões de terra batida e trilhos largos, mas o elemento natural desta bixinha continua a ser o asfalto;
-Apesar de ainda necessitar de algumas afinações - nomeadamente corrente e travões, a sensação que transmite é a de uma travagem bastante firme, muito controlada e eficaz. Em grande parte - diria eu - por causa do relativamente baixo centro de gravidade. 
-Top gun: é brutalmente confortável. Quando digo confortável não estou a falar em termos comparativos com uma bicicleta de cidade com um selim monstruoso artilhado com gel, estou a falar de uma poltrona com rodas. Esse é o termo da comparação. É uma poltrona com rodas.

Em relação ao sistema de direcção, revelou-se muito eficaz, muito directo e muitíssimo confortável. É para isso que serve, aliás, o guiador debaixo do assento: para ser muitíssimo confortável.
A condução/pilotagem/whatever: exige alguma habituação. A enorme distância entre rodas torna-a menos imediata na resposta, tornando o equilíbrio em baixas velocidades um tudo-nada complicado, mas assim que atinge o ponto em que a geometria começa a operar de per si torna-se um mimo. É, tal como disse, uma questão de hábito.
Uma nota final: como seria de esperar, uma coisa destas com quase dois metros e meio de comprimento não é prática. Não se arruma em qualquer sítio, não passa em corredores estreitos e em L, exige algum espaço. É a concessão a fazer por tudo o resto.
Ficam duas singelas fotos. Dá para ter uma idéia do que estou a falar.