Friday, August 24, 2012

FWD MBB

Mais um palavrão - dois, no caso.  Front Wheel Drive, Moving Bottom Bracket... Em Português seria algo como Tracção Dianteira e Apoio de Pedaleira Móvel. Algo assim.
Já me tinha prometido a mim mesmo uma coisinha destas (http://covadaonca.blogspot.pt/2012/06/e-para-desmoer.html). e... aqui está.

Antes de mais, e para não dar aqui ares de andar a evangelizar seja o que for, tenho que dizer que a única vez que fui ao tapete nestes últimos anos foi hoje, e foi nesta coisinha. Nem a compridona com um guiador do tamanho do Titanic foi tão difícil de acostumar. 

Agora voltando ao que interessa: depois de ler inúmeros artigos, comentários e entradas em fóruns maioritáriamente em língua Francesa - por alguma razão que me escapa os anglo-saxónicos parecem ser um nada mais conservadores com esta abordagem - fiquei curioso o suficiente para tentar, nem que fosse para perceber que não funcionaria nunca. Pesando os pontos contra - a perda de tracção em situações limite e a curva de aprendizagem, tendencialmente longa, e a dificuldade em controlar a bicicleta também, que também é amplamente discutida nos fóruns, com os pontos a favor - simplicidade, rigidez estrutural, design compacto, e a performance, claro, decidi-me mesmo a avançar com uma abordagem razoavelmente conservadora e dentro dos recursos disponíveis.

Uma dos grandes desafios deste design consiste em minimizar a interferência na direcção pela força exercida na pedalada, tal e qual como nos triciclos em que a maioria de nós deu as primeiras pedaladas - salvaguardem-se as devidas diferenças. Outras questões que vi levantadas prendiam-se com a dificuldade de pedalar em curva e pela pressão adicional exercida nos joelhos, tema que aparentemente preocupa muita gente nos fóruns... 
Relativamente ao primeiro problema, geometria. Manter o eixo da pedaleira aproximadamente ao nível do assento, o eixo da direcção tão perto quanto possível da linha dos quadris e com uma inclinação de cerca de 55º são as linhas-guia mais conservadoras para este tipo de design, e também as que têm obtido melhores resultados. Esta geometria garante também a menor interferência possível do eixo da direcção com as pernas em curva.

Posso garantir desde já que a aprendizagem não é nem linear nem pacífica ou sequer desprovida de riscos; com efeito o cérebro tem que ser reeducado para utilizar a anca (e não os joelhos, como tenho visto incorrectamente referido nos fóruns) como parte integrante da direcção. Um facto deveras interessante que notei foi a maior necessidade de utilizar as pernas como elemento de equilíbrio do que em qualquer outra reclinada em que tenha andado. Mas para já (e com muito poucas horas de prática) nada que me indique qualquer esforço adicional ao nível dos joelhos, apenas da anca.

O quadro principal foi feito a partir do tubo do quadro de um triciclo, ao qual soldei um garfo de btt (1"1/8) e que triangulei com dois tubos de aço de secção circular (20x1mm). A caixa da direcção foi soldada a cerca de 55º e apesar do peso do assento - que também serve como peça de reforço estrutural, dado que está aparafusado em três sítios diferentes, todo o conjunto (mesmo com a roda montada e pneu cheio) se revela extremamente leve, ao contrário da metade dianteira, que tem os dois desviadores, a cassette, a pedaleira e a corrente, para além do tubo de reforço da direcção. O guiador é de uma bicicleta de cidade, bastante largo por sinal. A roda dianteira foi canibalizada de uma Da-Hon, e dado que o diâmetro de uma roda 26" é 1,3 vezes superior ao de uma roda 20", utilizei uma pedaleira 30-42-53 que mantém uma razão idêntica com uma de 24-33-43 - ou seja, em teoria esta bicicleta deveria conseguir acompanhar com qualquer btt no asfalto, dado que o que perde em diâmetro de roda ganha na pedaleira.
A parte dianteira é comparativamente mais pesada do que a traseira, e o trail de cerca de 8 cms não ajuda nada a manter aquela roda a direito com a bicicleta parada. Ainda assim consegui equilibrá-la contra o lancil do passeio, o que não consigo de todo com a minha btt, que deve andar mais ou menos pelo mesmo peso. Com a excepção do travão traseiro, todos os outros elementos estão na metade dianteira da bicicleta, o que ajuda (e de que maneira) a 
manter a cablagem relativamente curta. Utilizei parte do triângulo traseiro de uma btt antiga (ainda em aço), mas tive que encurtar a distância entre a pedaleira e o eixo da roda
A almofada do assento e o apoio da cabeça estão temporários, mais tarde arranjarei algo mais ao nível do resto.

Para já, e da curtíssima experiência que tenho: tenho que praticar (muito) mais. A segunda coisa prende-se com a performance: é estranho utilizar a anca para curvar, mas não deixo de ter a sensação de que é absolutamente natural. A terceira, ainda no campo da performance: é seguramente, de todas as reclinadas que já fiz e que já experimentei, a que tem menos perdas na transmissão, quer devido ao facto de ter uma corrente muito curta quer devido à rigidez do triângulo dianteiro. A questão (amplamente debatida nos fóruns) de permitir utilizar todo o tronco e braços no esforço da pedalada - conseguindo assim aumentar o torque  e a potência da pedalada, com fortes implicações na capacidade de "trepar" parece-me um nada empolada (claro está, sempre numa óptica comparativa com a performance conseguida numa bicicleta de estrada); creio eu, numa análise muito primária e fundamentada em muito poucas horas de aprendizagem que a utilização peculiar que se faz da anca neste tipo de bicicleta terá bastante mais influência a este nível, sendo que o incremento conseguido com a minimização das perdas na transmissão não é de todo de desprezar, bem pelo contrário.

Ficam algumas fotos tiradas há pouco. Vou ter que insistir bastante mais na prática antes de me aventurar para mais longe da porta de casa.